quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Karostas Cietums

Capa em pano para livros inspirada em Karosta e na sua emblemática prisão...


Porquê Karosta? Ninguém que nela se inspira o sabe explicar.

Old Building. 
Fotografia da autoria
 de XEON
Esta cidade situada na Letónia, no norte de Liepaja, causa uma impressão muito forte. Talvez seja a sua prisão, cujas paredes em tijoleira sobressaem no branco da neve, sufocando os gritos dos espíritos que ali ainda se sentem cativos; talvez sejam os seus modernos e desconcertantes edifícios em ruína, mergulhados na névoa do entardecer e que nos enchem de espanto; talvez seja a sua magnífica catedral ao estilo russo, um reduto de cor numa paisagem sombria; talvez seja o sarcástico esqueleto de uma bateria militar que irrompe da água a despeitos das vagas que ameaçam desfazer o seu cadáver lívido; talvez seja pela presença do Báltico, ora translúcido, ora cinza que branqueia os ossos depositados na sua margem pelas marés e pelos nazis...

Contracapa
Talvez o que mais impressione seja o facto de a sua construção ser algo recente, datada já do tempo do czar Alexandre III, que ali ergueu uma incrível fortaleza labiríntica como bastião contra a Prússia. Os modernos edifícios em ruína falam de um mundo do qual somos meros espectadores ausentes, arqueólogos de nós mesmos numa paisagem que lembra a nossa e nos confunde na esfera do tempo.
Ainda antes da saída dos soviéticos e da democratização da Letónia, este porto de guerra, outrora rodeado de secretismo estatal, tornou-se cenário de outras lutas para as quais não tinha sido pensado, as da toxicodependência, fazendo com que os seus habitantes se sentissem discriminados em relação aos de Liepaja. Porém, as câmaras dos fotógrafos e os pincéis dos artistas fizeram desta cidade um centro dedicado à Arte. A prisão foi reabilitada, desta feita como hotel temático onde que os hóspedes vivem a experiência dos prisioneiros soviéticos, escutam os lamentos dos espíritos e vêem os seus espectros na penumbra inquietante das celas.

Pormenor do fecho (fragmento de ramo de plátano) 
Karosta soube compreender, aceitar e preservar o genius loci, o seu passado de dor, medo e angústia.
Ainda considerada a zona escura e degradada de Liepaja, Karosta é um lugar à parte de todas as convenções sociais, mas o que antes era olhado com estranheza, hoje é visto como arte. 

Pormenor da lombada
 A capa é feita em tecidos de lã, algodão e feltro, forrada a feltro preto. À frente, está representada a prisão com as suas paredes de tijoleira e arame farpado (em ponto de asna levantado), cujas grades foram finalmente quebradas e de onde surge uma rosa negra (bordada a fita de organdi), em memória do sofrimento dos prisioneiros. Separada da contracapa por uma fileira de arame farpado, encontra-se a sombra de uma bétula despida (aplicação e bordado a ponto-atrás), árvore presente em Karosta e género emblemático da Letónia, onde os bosques formados quase exclusivamente por estas árvores esguias são muito comuns. No interior, o lado direito dá continuidade à representação da parede da prisão (tecido de lã cosido a ponto de seta) e, do lado esquerdo, uma ossada, em representação dos ossos humanos que podemos encontram à superfície da areia, nas praias de Karosta. O fecho é em ramo de plátano e cordel, que evoca simultaneamente as ossadas e as florestas que rodeiam a cidade, vida e morte.

Pormenor do interior


Mais informações sobre a cidade e os seus monumentos: http://www.karosta.lv/en/places/

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